31.7.07

Indigesto


Quanto tempo
quanta energia
Por causa de um segundo
de desatenção

Quanto tento
uma sinergia
E acabo acuada num profundo
beco
de desolação

Mas tem nada não
eu bebo: tu sebo.

A gente escorrega
sem trégua
na garganta escorregadia
da golea-cosmo
na garganta escorregadia
da goela-mundo

eu nada posso
nós, um pouco de tudo

Se você ainda quiser me engolir
eu deixo você vir
eu não me descontrolo mais
eu não te controlo mais

Eu deixo que você me coma
eu dou o corpo à soma
estúpida
estapafúrdia

eu dou
mas a indigestão dará em você

e, ao final, é só desprazer.


passado, pelas 14:07 1 comentários

24.7.07

pronto
para fredrik boethius

tirou uma moeda da cartola e disse, sou alheio.
acendeu um cigarro no fogo que soltava pelos olhos e disse,
sou poeta.

brincou de corrida no parque,
quietou-se, brincou de corrida na praça.

cuspiu uma moeda na fonte do cemitério e disse, prazer,
sou de todos.

pintou-se de corrida em frente ao mausoléu e pensou, sou tolo, mas sou feliz;
sigo.

plantou esperança
no coração de uma pedra, que disse, sou eterna.

cantou bem baixinho a canção que todos conheciam
e disse, sou do mundo.

abriu uma fresta na nuca de cada estrela e encantou. fez-se festa.
o dia em que parou e pensou, realizou que um sonho
como aquele, de poeta,

era muito mais que o pássaro em chamas, como olhar,
como flecha:

sentou e creditou ao fogo, ao amigo do fogo e aos que queriam o fogo
uma máxima de amor e pedra, eternizou-se.

passado, pelas 00:29 2 comentários

20.7.07

para minha mãe

Entrego as armas ao irmão que não tenho. Entrego-as hoje para amanhã pensar sereno. Como as gotas que caem quando a gente chora e chove. Como aquele sangue que corre e não deixa senão o vermelho.

Assim me despeço do medo. Sem a coragem dos bravos, mas breve enquanto é tempo. Outro dia entendi que não há nada além do risco. De ser para o que não se sabe. De dar-se para o que nunca é seu.

Porque ali onde a gente planta abrigo, nasce colo. Novo ainda e macio. Embalado por notas de canção e cânfora. Um pouco de si na intimidade do corpo alheio. Novelo de coisas tantas e das pessoas afora e fora de nós.

Vejo o sol nascer e é o dia-a-dia da lida que me faz crer. Nada acima mais que ao lado. Só o muito de caminharmos e as mãos dadas por toda a estrada.

Não me apego aos cabelos.

Desaprendo o belo.

Espero.

passado, pelas 12:24 3 comentários

17.7.07

Trinco.


Eu volto sem ir

Eu vou sem olhar pra trás
Eu olho pra trás e fico ali
Ao gosto da maresia e sem cais

Tendo ânsia

Por causa de um profundo desgosto
Mesmo em face de um profundo gozo
De outrora

De um tempo de alianças

Passado
a limpo
Aos papéis
do divórcio

do super-ego com o zero

Os anéis
e seus trincos
não cabem mais
Não significam mais
Restando só o símbolo

do findo

A fundo, o raso

O despeito aos acasos
O respeito aos incautos
Os náuticos de um mar de lágrimas

Cujo vocabulário dispensa as aspas

Cuja vida é uma eterna partida às terras não-vistas



passado, pelas 16:46 2 comentários

7.7.07

é o meu sorriso,
é meu pára-brisa,
meu jeito de pisar em flor.
é meu segredo,
é meu desvio,
meu guia dos curiosos.
faz fita púrpura,
mistura sonho e escarlate,
faz do pó um chá um beijo,
ela faz a minha fé.
é todo samba, é tanto funk
é lírio, minha rosa, meu amor.

passado, pelas 02:35 1 comentários

6.7.07

bênção solene

Jesus bateu em inha porta
com missão sacramental:
'ide e batizai todas as nações'.
mas não sou pedra,
não posso edificar a sua igreja
e me recolho aos meus pequenos pecados,
cometendo pequenos delitos
religiosamente.

passado, pelas 19:55 2 comentários

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