7.9.08

saudade não tem fim

saudade, ansiedade, voracidade não tem fim.
a gente se joga nas palavras, nas aspas, nos tapas, nos abre-alas:
mas a verdade é que o samba das pelancas e a bossa-ócia não tem fim.
os meus amigos cadê? minha alegria, meu cansaço? meu amor, cadê você? eu acordei, não tem ninguém ao lado.
eu ando pelo mato, mas a cidade me espreita; eu ando com o saco cheio, mas a novidade me aperreia; eu ando fora do eixo e a ebriedade me enseja.
eu queria ter o corpinho de dez anos atrás e a cabeça de dez anos a frente: e a gente fosse menos que antraz e mais que de repente.
no entanto, todavia, contudo, porém. somos menos que o agora vai e mais que não vai nem.
somos um pouco mais que a veia infartada e menos que a boca enrugada.
somos o fluxo concêntrico: esse intruso excêntrico.
somos as reticências do que juramos, em outros tempos, em outros cantos.
mas sem os prantos e os calos nos dedos: não seria nosso o desarranjo.
sem as laudas de desenganos, seríamos - no máximo - um frango seco (quando é melhor ser um frango ao molho pardo).

passado, pelas 23:17 1 comentários

2.9.08

três anos de expresso.

três expressos, por favor. comborra.

passado, pelas 21:05 2 comentários

precisaria inventar outra gramática para escrever os versos chorosos vertidos nessa hora cinza ainda que de sol triste mesmo azul ausente de mim como se essas mãos nunca tivessem tocado nada além do travesseiro molhado da noite passada da tarde congelada na lembrança rubra de um amor descuidado de tão secreta luz nessa história leviana de olhares despistados por medos e agruras aquelas ainda tardias que me tocam o peito e não saem de férias mesmo na lua cheia como os livros todos espalhados pela mesa e o café de dias atrás borrando o fundo das canecas e agora é pó por toda a casa toda a sala numa penumbra imensa e cortante de mostrar veias abertas pés trôpegos levantando da cama sem ter sequer destino além do espelho que me envia a mesma imagem cega e doente da repulsa desse corpo pequeno e sem carinho até que o telefone toca e o coração chega na língua mas não diz porque não há linha que me costure a ti fatigada de soluços e pigarros e não mais suspiros de uma silhueta apenas deitada sonhando em ser a mulher da tua vida pra sempre no meio da fumaça daquele cigarro que não fumo porque faltou o centavo a carta o tempo de picar os únicos minutos de sossego que são aqueles que antecedem o desgosto que é quando eu sinto que nada mais posso levar além de panos nessas tramas estranhas do meu rosto esse caminho de água no chão do pensamento mais novo também se eu não existo sem um instante do seu beijo mais arbóreo querendo ser botão e ficar naquela camisa nova ainda que escondido esse não é o mais bonito traço da composição numa partitura sem escalas pra outras ilhas e daquela nave vejo um aceno talvez o teu dizendo adeus e pronto talvez doce como espero sorrindo depois se abrindo em pétalas no teu caminho mais zeloso e sim dirão passional o seu delírio não vale uma titica no mundo de dois mais dois só que um é aqui e amanhã sei que não bastou janeiro fevereiro março no seu abraço abril partiu meu corpo em mil e aqui a solidão vai buscar quem se esconde de mim traz de volta aquele véu de manhã clara e pão na estrada a paz em algum canto novo do universo deve haver um lugar onde felicidade não custa caro e é mais leve que pena não sou borboleta e meu vôo é rasante por isso caio e hoje foi queda livre no poço e de lá grito só sou e ponto

passado, pelas 21:03 2 comentários

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