25.1.10

Deixar o cabelo crescer

Eu olhava as fotos de dois, três anos atrás. Um cabelo longo, pontas loiras. Talvez muito loiras, talvez liso demais. Mas era um cabelo bonito e me deu certa nostalgia.

Ao olhar fotos de um, dois anos atrás, era um cabelo longo, ainda que um pouco menos. O loiro estava mais espalhado e mais sutil. Era um cabelo bonito e me deu certa saudade.

Então, eu olhei fotos de três, quatro meses atrás. Um cabelo curtíssimo, enroladinho.

E, po, me bateu uma certa vontade.

Eu respiro fundo, eu acredito que vai passar. Eu tento não pensar naquele poder, naquela excitação que dá quando a gente olha pra um monte de cachos no chão, bate o jaleco e sai na rua com toda a nuca de fora. E investe no carão.

É bom, mas é rápido. É a via mais fácil.

Difícil é deixar o cabelo crescer.

passado, pelas 18:53 2 comentários

19.1.10



voei até a cidade onde você mora,
onde eu morei,
mas não tem mais
fundação,
já não tem população
que ocupe esse lugar.


você voou até a minha,
que já foi sua,
mas o choque foi chegando de mansinho:
a comida, o conforto,
o carinho -
você estranhou quando chamou de lar.

voamos juntos para uma cidade nova,
que não era minha, nunca foi sua,
e ficamos sem chão até a hora de voltar.

você cortou as asas, as minhas,
as suas.

eu fiquei em casa e nunca mais saí de lá.

passado, pelas 19:44 2 comentários

dos que me restam, só trago mais um

já pela manhã me ulceras:
ruges como fera em janeiro,
cravas unhas no vão entre meus lados.

adiro tuas placas em meu peito,
me voltas como animal sem freio
em explosão
em raias repletas de alvéolo,

(tua tez, papel-carbono, fábula derretida
do pequeno príncipe que virou dragão.
não cospe fogo, mas lhe roça a garganta).

amarro as mãos às costas,
me tentas pois tu gostas é de
me ver em dor.

fundas de pedra meu decoro,
tratas com escracho meu escarro,
faz-te tudo que aspiro.

repito que um dia te largo
mas envolvo-me em teus cachos defumados
quando oferece um sopro amigo.

passado, pelas 19:41 0 comentários

Flor de Abril

O nome do próximo filme de Cícero Filho, o diretor de Ai que vida. Depois de uma comédia epidêmica, o moço vai fazer um drama. Mas pra ele eu já escrevi. Agora preciso escrever sobre Flor de Abril.

Este filme que está rodando na minha cabeça. Mesmo não sendo exatamente um filme. É só um trailer. É uma comédia, até o momento.

Começou com meu pai. Trouxe uma VEJA pra mim. Quando ele ou minha mãe, assinantes, deixam uma VEJA fechada dando sopa pelos lugares comuns da casa, eu sei que eles querem que eu leia algo dentro daquela revista. Se a capa me animar, coisa muito muito rara, eu abro. Só que ele trouxe a revista aberta, e apontava um anúncio pra mim. Ele quase sorria.

Um curso. Um concurso? Não, era um curso. Espantei-me tanto que sentei pra ler o tal anúncio. Era verdade: não era um trainee ou um concurso. Era um curso no qual eu poderia escrever. E visitar uns amigos em Sampa, pensei.

Mandei o texto no último dia (segundo dizia a revista) e durante meu horário de almoço. Precisava escrever rápido e com ninguém por perto. Felizmente minha sala na época era o camarim do estúdio, e ficava nos fundos da agência. Em paz, mandei o texto para desencargo da minha consciência.

Um tempão depois, um amigo me dá um toque pelo g-talk: eu estava selecionada pra segunda fase. Eu lembro que fiquei muito empolgada, mas a verdade é que eu estava numa quinzena que era pura empolgação. Estava no meio dum Festival e teria que estar no Rio, em poucos dias, pra um Encontrão. Era uma quinzena abundante de cinema, e acabaria de maneira esplêndida. Li uma SUPER, terminei de ler duas PIAUÍ, e pedi abrigo em regiões vizinhas à Sampa, just in case. A questão era a semana seguinte.

Publicidade de novo, um monte de coisa atrasada, uma pilha de palavras que eu relutava em escrever. Reuniões que eu mal sabia como começar, projetos que eu não fazia idéia de como terminar. Correr atrás de notas ou correr com os braços cruzados nas costas? Banco, mala, roupa, banco, sapato, Taquaruçu. Eu não sabia se casava ou comprava uma bicicleta, e eu ainda estava de Chico. Vá...

Quando eu recebo uma ligação. Entrevista? Claro, vamos nessa. BRAVO? Hahah. É difícil até comentar por aqui ou PIAUÍ. O chefe já me dizia: isso não é semana de criar, é de procriar. Eu devia ter imaginado: também não era uma semana pra improvisar. Ai que vida.

passado, pelas 19:40 0 comentários

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