16.4.08

fica tão bonito quando cai uma gota de café

você dobrou meu coração.

picotei umas arestas,
retalhei umas revistas,
mas ainda não cola, meu bem, não rola.

recorta esse sorriso que não chega a provocar.
imprime uma outra cara nessa sua de antever.

economiza essas suas pautas
que eu já chorei vinte mil laudas de poema.

eu só faço papel de bobo.

passado, pelas 19:18 3 comentários

tormenta

se um dia eu te aparecer
vestida de branco
recolha as lágrimas
que ficaram
das primaveras passadas
e aceite a última flor do meu jardim
em chamas

se o meu pedido
não tiver cor nem sorriso
é porque o tempo
das orquídeas
é outro
avesso a esse
distante da espera

pois só no seu corpo
que em tantas tardes habitei
existe um barco
que navega
para dentro
para o centro
do que um dia foi
tormenta e lida

ali farei outra morada
e ainda que seus olhos
fartos d’água
tenham se refeito em ilha
partirei em busca
da terra
da areia densa
da angústia imensa
que liga
meu torpe passo
ao seu abraço.

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4.4.08

a CANETA de JULIETA

E se Julieta não tivesse fincado, em si, um punhal?
A partir daí, é a vida malagueta, a vida severina,
esse necessário mal.
Por aqui não é oferecida a cura, apenas a rima
e um tanto de pecado mortal.

A essa altura, todo ato é sacrilégio. Que na falta de veneno,
é a tinta da caneta, um santo remédio.
Quando o texto impõe-se à página,
nada se oferece além do espanto.
Nada mais que o canto
de quem se estremece, muito mais e sobretudo,
com o presente que com o futuro.

Que o amanhã a Deus pertence
e em seu reino dorme a mente sã.
Portanto, aqui é o lugar de uma cabeça com pouco sono
e um corpo cheio de demônios.
Por enquanto, não cabem nem os sinônimos.

Aqui o papo é reto. A caneta desentope o ralo do inferno.
E o cheiro aguenta quem pode.
Daqui ninguém sai de alma lavada. Ela fica, no máximo, torcida.
Coisa pra moça de muito saco e de muita fibra.

passado, pelas 01:06 1 comentários

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