17.12.07

estudo sobre um samba

o que você chama de pocilga, meu bem,
eu chamo de palácio.
onde você clama por abrigo,
eu só tenho meu abraço.
enquanto tiver essas fibras,
é fiasco,
eu descaso tudo, meu bem.
pra falar a verdade,
se essa vida fosse um figo,
eu me guardava pro bagaço.

passado, pelas 20:20 3 comentários

O orvalho e o crediário

o cheiro da terra molhada
tarada por uma nova semente

o canto altivo e o vôo ascendente dos pássaros
molhados
o verde emulsivo das folhas
e suas gotas

e a esperança que sempre
pinga

que não se resseca
e supera a fadiga

porque tem coisas que só a tempestade
e a idade
fazem por você

passado, pelas 10:32 2 comentários

10.12.07

Gira

Ao redor tão esquisito
rodar tão nauseante

Embaixo pêlos e calafrios
O cheiro do instante perdido

Em cima respiro e suplico
o tempo que dá

Por dentro um dó menor
um surdo vibrante

Por fim o cheque a beca o saco
sem fundo


passado, pelas 03:36 1 comentários

9.12.07

enquanto prepara uma invasão silenciosa


mofou.

sempre mofa, com um mínimo de descuido.

mofou.

eu sempre pensei que teria meu próprio pão.

mofou.

das últimas vezes, demorei a perceber o que sou.

mofei.

não aquela crosta verde, eu boloro sem ruído.

mofei.

fiz um ano incrível, fiz um papel risível.

mofei.

antes de mais nada, não menti que sei.

formou.

sempre fôrma, nunca me dão liberdade.

formou.

não que eu queira viver todo esse formol.

formei.

antes de mais nada, meu amor, eu amei.

formei.

não que tenham me acertado a idade.

fumou.

formando nuvens que agora vão e vêm, essa estação.

fumou.

sempre fuma, como um menino decidido.

me fui, filmei.

fiz de uma metade a outra, não dividi.

mofou.

não que eu tenha sofá, mas é sempre bom

colocar lá no quintal

para pegar um sol.

passado, pelas 16:00 3 comentários

crise da meia idade


a minha cidade me mandou passear.

enfiou concreto na minha cara

e pra me fazer de palhaço pintaram tudo de branco.

cortou o que eu tinha de velho

me prometendo novidade

e saiu por aí sambando, toda dura.

minha cidade falou pr'eu m'embora

antes que o sol se ponha,

pr'eu guardar de lembrança o que tem de melhor.

passado, pelas 15:52 0 comentários

4.12.07

quem ligou para maria andrade no sete de setembro
foi sua mãe.
dizia às pressas que tivera um problema,
não podia dizer por telefone.
das dez às onze da manhã, enquanto
preparava um pavê para levar,
não parava de sorrir, pensando
agora, teriam um segredo.

passado, pelas 16:59 0 comentários

1.12.07

último

lá vem
malandro mês
faz ano
que não te vejo

é o último
o inferno das cabras
o silêncio dos ratos
felizes com os restos
das ceias
mas, calma
que na solidão da festa
o peru
também se foi
- fosse pavão
sobraria pena

espero você
outra vez
que trará
além dos sinos
e luzes
destruindo pupilas?

lembro de antes
deslembro
trinta e um
não é tanto
faça uma comparação:
para chegar
foram doze
dores

e quando
vier
a derradeira hora
receba
nossos mais sinceros
votos
de fim-de-si
de vá embora.

passado, pelas 18:44 4 comentários

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