me compra um mundome compra um mundo
onde todo mundo
goste de jambo
onde eu não precise
saber qual chave
abre a minha porta
porque não se tranca
esse outro mundo
[eu procuro
anúncios
da nova era
encontro apenas
aluguel de céu
pra depois daqui]
me vende um tempo
fiado
é que o pagamento
só sai no aniversário
até lá preciso de tanto
roupa sapato tomate martelo
e aquele antialérgico genérico
pro caso de um piripaque
parcela em cinco vezes
a vontade do que não se é
pra ver se, farsante
consigo me dividir
a perder de vista
e assim
aos pedaços
com juros de cem por cento ao mês
não haverá fome
saudade sono estupidez
capaz de me roubar
a paz atômica
de existir
só.
passado, pelas 12:15
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spondias purpurea
comecei a prece pedindo pra ter de novo
sete anos -
aí parei.
o que eu queria, meu senhor,
era um pé de serigüela,
fosse o da vizinha!, como era,
pra ter com quem conversar.
exemplo: um origami sempre é um desafio.
nada do que eu aprendi sobre a vida
até os sete anos
foi revisado como devia, estudado, decodificado.
eu nunca fui mesmo um bom aluno, dedicado,
desses de perder fuga.
e um conselho: se não praticar,
um origami fica cada vez mais difícil.
envelhecer bonito, se não meta,
era coisa boa de se conseguir.
bonito e envelhecer, dizem lá pras bandas
do outro lado do rio, são perspectivas, não verdades.
toda a flora que pipoca na minha cabeça,
com plantas-idéas que vão crescendo, crescendo, crescendo,
não pode ser podada.
eu não consigo cortar.
o físico que analisou as condições de resistência
do meu crânio - às plantas, às idéias -
receitou topiaria e repouso.
estou seguindo o tratamento.
um dia, enquanto dobrava,
ouvi uma música, assim:
joana, não brinca na chuva!,
joana, não vai se molhar,
não fica correndo na chuva, joana!,
senão vai adoentar.
e achei tão triste a vida de joana
que chorei.
o fato é que eu não consigo me lembrar
- sempre -
do pássaro que bate as asas. começo com um quadrado
e a seqüência se insinua, mas não se completa
na minha cabeça.
passado, pelas 17:36
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Valha-me
Valha-me DeusValha-me ZeusValham-me os meusos teusos nossosValham-me os ossosValham-me os destroçosValham-me os negóciosos sócioso ópioFalha-me o ódioFalha-me o ócioValha-me a falhaValha-me a fornalhaValha-me o pãoRalha-me o nãoRalha-me o cristãoRalha-me de antemãoCalham-me os sapatosCalham-me os percalçosCalham-me os sobressaltosCalam-me os aspargosas aspirimase os urubusEm cima do meu corpo nu.
passado, pelas 16:11
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Quem ri por último ri melhor?
Não responda à esfinge.
Ainda é melhor pagar pra ver.
Sossega ou finge
não esmorecer.
Apega-te a tuas descrenças:
se não há céu ou inferno,
só há o aqui e o ali.
Vá ali,
pede licença.
Não se acomode ao inverno.
Pegue teus óculos de sol
ultramodernos
e um anzol.
Aguarde a renascença.
E pesque.
passado, pelas 15:12
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