os apegados
É o alho
Que não sai dos dedos
Nem com água corrente
De cachoeira
É o suor
Que não sai dos lençóis
Nem com sabão omo
Multi-ação
É a carne
Que não sai dos dentes
Caninos
É o cisco
Que não sai do canto do olho
Estrábico
É o encosto
Que não sai do corpo
Nem com charuto
De cabloco
É a palavra
Que não sai da ponta da língua
Desafiada
É a coceira
Que não sai da orelha
Vermelha
É o batom
Que não sai do filtro
Do cigarro free
Quem não quer be?
É a âncora
Que não sai
Do fundo
De nós
É a cânfora
Versus o mofo
passado, pelas 06:24
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Os cinéfilos
Se fosse um filme
Se fosse um filme cinemão
No meio do caminho de chuva
Sem pedra
Teríamos nos encontrado
Quimera
E dado aquele sorriso branco-ternura
De gente que tem vidão
E ainda assim
A vida caberia num quadro
Tão clássico
Que não tem fim
Se fosse um filme noir
No meio de nós dois cairia
Uma chuva de pedra
Eu me embriagaria
Quimera
Você partiria
A chuva não teria fim
E a vida amanheceria nublada
De ressaca
Cinza, enfim
Se fosse um filme surrealista
Eu observaria a chuva
Intimista
E do meu olho cairiam
Lágrimas de pedra
Quimera
Você seria caolho de tanta usura
Quimera
O tempo viraria dinheiro sujo
Rasgado
Diante dos nossos olhos duros
Prosados
Sem começo, meio ou fim
Se fosse um filme amador
A câmera na mão
Filmaria a chuva
Na cabeça, uma idéia e uma pedra
Pouca produção
Pouca compostura
Quimera
Choveria dentro de nós
Até quando a chuva e a fita acabassem
Dois amadores a sós
Deixariam que o filme queimasse?
Se fosse um filme institucional
A chuva caberia em um disco
Sem risco
Eu sentaria à sua frente
De cabelos e alma lavados
Não seria contundente
Não seria passional
E seríamos poupados
De encarar
As próximas eleições
De acreditar
Nos próximos leões
No próximo filme,
Não votemos em legendas
Voltemos às entrelinhas.
passado, pelas 19:19
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Tristeza é senhora, João. Bem de longe eu escuto alguma coisa, mas não sei o quê. Hoje acordei triste no chão de um beco de garrafas; mas sei que quando nada está certo, pode-se ao menos ser elegante. Cadenciado, João, cadenciado é o passar dos dias. Os anos se foram, eu sei. Não deixá-los para trás é nossa obrigação, levá-los na algibeira, na voz que não silencia. E os olhos, joão? Virados para dentro e vendo nada; são como os do Parker, sabe? Choro por vocês dois.
Solidão apavora, João. A orquestra foi-se embora, os músicos um a um. Está sozinho agora e o violão grita. Toca, João, que ele te conhece e entende. Onde estão todos? Morreram, sumiram. Tom morreu, Bonfá morreu, Nara morreu. E Agora João? Agora é estar só. Não tem mais Estados Unidos, deslumbre já não há, o sax se calou. Por que não quer ninguém, você? No silêncio de seu apartamento, coração desafinado, repetindo sempre as mesmas homenagens, descobre o sublime e depois esconde no bordão, no ritmo, e o mistério está aí. Eu, de minha parte, não vim da Bahia nem nunca a visitei, mas um dia eu volto para lá. Confesso: fotografei você, João, na minha Rolleyflex. Revelou-se sua enorme solidão.
Coração desafinado e vagabundo, o palco aguarda impaciente. E nos degraus do ritmo, em uma noite que só pode ser de 58, certamente verão, você está sentado. Cortejando o simples, não quer voltar para casa, não agora. Cantando a gente manda a tristeza embora, eu sei. Mas sei também que ela não vai muito longe. Você me pede com os olhos vazios e bem abertos: "não façamos barulho". Para além de seu olhar, de seu toque, tudo é silêncio. E enquanto ainda for noite, enquanto ainda há canto, enquanto quiser minha companhia, eu também não vou pra casa. Não vou pra casa, não vou não senhor.
Pingado
passado, pelas 12:17
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