Solidão apavora, João. A orquestra foi-se embora, os músicos um a um. Está sozinho agora e o violão grita. Toca, João, que ele te conhece e entende. Onde estão todos? Morreram, sumiram. Tom morreu, Bonfá morreu, Nara morreu. E Agora João? Agora é estar só. Não tem mais Estados Unidos, deslumbre já não há, o sax se calou. Por que não quer ninguém, você? No silêncio de seu apartamento, coração desafinado, repetindo sempre as mesmas homenagens, descobre o sublime e depois esconde no bordão, no ritmo, e o mistério está aí. Eu, de minha parte, não vim da Bahia nem nunca a visitei, mas um dia eu volto para lá. Confesso: fotografei você, João, na minha Rolleyflex. Revelou-se sua enorme solidão.
Coração desafinado e vagabundo, o palco aguarda impaciente. E nos degraus do ritmo, em uma noite que só pode ser de 58, certamente verão, você está sentado. Cortejando o simples, não quer voltar para casa, não agora. Cantando a gente manda a tristeza embora, eu sei. Mas sei também que ela não vai muito longe. Você me pede com os olhos vazios e bem abertos: "não façamos barulho". Para além de seu olhar, de seu toque, tudo é silêncio. E enquanto ainda for noite, enquanto ainda há canto, enquanto quiser minha companhia, eu também não vou pra casa. Não vou pra casa, não vou não senhor.
Pingado
passado, pelas 12:17
5 Comments:
é... desde que o samba é samba é assim.
bjins, Camilla
sim. bem, assim.
Aqui nessa casa, nos dias que têm comida, comemos comida com a mão
...
Sentimos que nunca acaba de caber mais dor no coração
Mas não choramos à toa
...
Volte...
João Gilberto rulezzzz..
Só falta ele morrer mesmo. Que dias tristes vivemos
e agora jazz é.
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