Não ter de soletrar meu nome é ganho de tempo.
Ligo o rádio e ouço o cara, aquele cara, sabe? Ele canta uma música com o meu nome. Nessas horas me reconcilio com papai e digo: obrigada Chico. Não, meu pai não se chama Chico, bobinho. Se bem que Chico também é um bom nome. É daqueles que você esquece a origem. Francisco? Não sei, já penso em avô. É que tá na moda colocar nome de vovô em bebê. É tipo chique. No fim vai virar Tião, Fred, Zé. Enfim, nomes antigos tem um quê de majestade, dizem. Eu poderia me chamar Maria. Até gostaria. Mas Maria só Maria? Tem de ser alguma coisa como Maria Antonietta, com dois "t", lógico.
Meu nome não tem letras duplas. É cru. Fico olhando para ele, impresso na conta de telefone. Às vezes acho que parece nome de homem, apesar de a versão masculina dele ser muito esquisita. Não é que nem "Eduardo" e "Eduarda", "Paulo" e "Paula".
E ele também não é daqueles neutros. Li esses dias nos classificados: "Vendo lindos filhotes de beagle. Tratar com Eurípedes." Eu tava realmente querendo ligar. Daí pensei que se não fosse a própria pessoa Eurípedes que atendesse, como é que eu ia perguntar? "Olá, o/a Eurípedes está? É sobre os filhotinhos." Fiquei angustiada. Uma bobagem, eu sei. Pulei para o anúncio de baixo, era uma Lúcia. Sem problemas.
Uma vantagem quando a gente é criança são os anagramas. Quem consegue pensar em um anagrama para o Wesley? "Wencedor", "Ynteligente". Não dá, cara. Outra facilidade são os poemas. Qualquer um faz poema com meu nome, ele é bom de rima. Dá pra ser romântico sem maiores erudições. Imagina um poema para o Pablo. Não tem nada que rime com Pablo, meu Deus. Eu poderia citar exemplos piores, mas pega mal, você sabe.
Falar de nome mexe muito com a vaidade das pessoas. Gosto não se discute, mas não dá pra negar que existem nomes feios e nomes bonitos. E os normais, como o meu. E pior que os normais, os comuns. Como o meu, ao quadrado. Não gosto nem de pensar na quantidade delas espalhadas por aí. E em várias línguas, combinações. Sendo chamadas pelo mesmo maldito apelido. Até o Papa - que Deus o tenha. Tá, nada a favor do Papa, mas ele era um velhinho e velhinhos me comovem.
Pensando bem, não consigo me lembrar de alguém que tenha o meu nome e que eu realmente admire. Só péssimas atrizes e cantoras ruins. Nenhuma literata. Ninguém.
Será uma espécie de karma nominal? Mau agouro em oito letras?
E agora eu não tenho nem um outro nomezinho para me confortar. Para me ajudar nesse momento difícil, mudar a identidade, essas coisas. O jeito é procurar o disco do Seu Jorge. E colocar a música para repetir. Já não basta a outra chorando na janela. Aquela tonta. Só pode ser porque se chamava Carolina.
passado, pelas 18:14
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