o cubo e o polvo
(calcularam volume, área,
apararam arestas.
discutiram classe, família, reino.
deram a face, camuflaram,
cheiraram,
acharam platônico.)
- tentar não dá em nada,
me abraça.
passado, pelas 20:10
3 comentários

liznão me lembro quantos anos tinha
na última vez em que fui feliz
talvez fosse bem moça
e olhasse pela janela
uma cidade
- lá, sim, eu poderia sorrir
teria sido quando
a mim restavam apenas
os papéis de outros
e os meus rabiscos tortos
imaginando um mundo
só de jardins?
tenho quase certeza
que carregava longos cabelos
e voava com eles até
cada madeixa virar nuvem
para então chover
para trovejar
certamente era doce
o nome que dava aos pássaros
ao menos, ao insetos
nas noites em que parecia tão simples
transformar estrela
em vaga-lume
um dia a cidade virou rua, essa rua
os fios negros se esconderam na caixa
amigos que são das tesouras
o céu pintou um rubro estranho
quase cor de sangue
no turvo dos meus olhos
agora
enquanto as luzes vagam
ofuscadas pelas cigarras
na solidão na penumbra
fotografo a mesma imagem
a moça, o barco
aquele esboço de flor
e ao lado, um aviso
- já é tempo
de ancorar.
passado, pelas 00:15
4 comentários
