jardim de tuberosas
as notas cálidas de sua voz deixavam o ar rarefeito no quarto. foram tantas as tardes e noites embaladas pelo alento daquela música que, mais tarde, quando tive de me desvencilhar das lembranças fabulosas e dolorosas da paixão, não mais pude ouvi-la cantar. foi assim durante quase dois anos, até que a missiva de um amigo despertou-me do jejum daquele aroma de rosas imposto pelo coração partido.
e busquei-a outra vez. por alguns momentos, resisti, com medo de que os sons fossem capazes de me transportar para as horas de outrora. mas logo desfiz-me em um gozo próprio das debutantes e chorei, grata pelos prazeres de rodopio da primeira canção. tive ganas de mergulhar em buquês com tantas flores quantas houvesse no meu quintal interior. subi em todas as árvores da imaginação e cantamos juntas, eu no meu desvario de má soprano e ela em sua doçura de fada soul.
de lá para cá, inventei duas dúzias de jardins e uma centena de gangorras florais. nesses minutos em que dura meu itinerário vegetal, o céu está sempre farto de pequenas nuvens densas a me dizer olá, ao que respondo com um sorriso e me deixo levar pelo vento, para assim segui-las e me desfazer, ainda criança, em garoa fina sobre as pétalas.
passado, pelas 15:33
4 Comments:
Hora de outrora. Aqui e agora.
"tu, lipa
eu, calipto"
As crônicas breve, com lirismo e, às vezes, sarcasmo e ironia, fazem de vc, querida Ju, uma escritora/poeta de fino trato com as palavras. Além de olhos de cagaita ou de pitomba lambida, vc em o dom de lidar com a arte de cortar palavras para ferir a carne e colocar sua alma à mostra. Linda vc atrás de sia treliça de buriti e babaçu, onde a luz permeia o que é possível penetar no meio da noite escura... Beijos, minha musa!
Gilson Cavalcante
http://www.youtube.com/watch?v=89izB9CYJE8
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