3.7.09

Dama da Noite

É um almoço que não tem fim
pois se a comida é boa
as palavras maternas
são insossas
são indigestas

É uma tarde que não tem fim
pois se o trabalho é pouco
as idéias são muitas
e o meu troco
não paga a multa

É uma conversa que não tem fim
pois se o idioma é o mesmo
a língua não é igual
cospe à esmo
enrola o substancial

É um sol que não tem fim
pois se há óculos-escudos

a visão não chega ao fundo
a retina não alcança o vital
a retina não alcança o nervo

É uma noite que não tem começo
pois se a lua se impusesse
já seria um recomeço
ainda que nada se propusesse
já seria um ensejo

Porque a noite não se acaba
a noite tão somente
se resguarda

A noite deixa que o dia
faça a sua cama
mas é dela toda a fama

A noite deixa que o dia
seja o seu vigia

Mas o drama
é que o dia se encanta.

passado, pelas 16:33

1 Comments:

At agosto 15, 2009 12:36 AM, Blogger Samir Raoni disse...

É na mesma conexão discada que percebemos que temos de reconectar nossos eus... temos que mudar a freqüência de transmissão e recepção... depois de conectar, reconectar a linha, percebemos que precisamos/necessitamos desconectar de tudo que nos aprisiona nessa rede . Percebermos que no final das contas o que somos não importa tanto assim... importante mesmo é saber que o silêncio também fala!
Gostei da linguagem desse seu escrioto.

 

Postar um comentário

<< Home

Powered by Blogger