13.4.09

poema para dona anália

era luz de candeeiro
era sim
alumiava mei-mundo
tantas léguas quantas fossem
daqui até a volta do bonfim

era na casa e na rua
e era mais em procissão
que nossa senhora da guia,
invocada em contrição,
carregou aquelas almas
pro caminho da salvação

eram as contas do rosário
moça senhora donzela: todas elas
dia e noite a mesma reza
- valei-me, minha mãe, valei-me!
que ofício de sentinela
foi sempre joelho e andor

era morto o seu menino
era morta a sá maria
nem de bala nem de susto
carece talvez assuntar
o motivo de tanto luto
que naquele fim de tudo
deu logo de ir se mudar

diz que nessas bandas
com três palavras até menos
um homem empenha o tempo
mas nem todo o dicionário
pai de quem seja ou padrasto
é capaz de encontrar
letra junta que dê jeito
do fim da vida explicar

a maria e seu menino
e mais toda sorte de gente
nenhum anjo carregou
levou as dores do parto
de antes, as dores do amargo
de toda hora de dor

de sempre sobrar espaço
no canto que é do sustento
do que se chama alimento
ou farinha ou café ou flor
e sobrar vela e ladainha
caixão cruz e pedra escrita:
ali a outro faltou
o de comer na mesa
o de lavrar no chão
que é na terra que se apega
quem nesse mundo nasceu
de nome grande sertão.

passado, pelas 13:58

1 Comments:

At abril 14, 2009 8:59 AM, Anonymous Anônimo disse...

mermão cabral de melo neto... voilá.

 

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