4.11.07

Águas de novembro.

Ela sentou-se em frente à tela como quem
senta embaixo da forca ou como quem tem
uma faca à goela.
Escreveria dez páginas ou estaria liquidada,
iria à bancarrota.
E nesses esquálidos dias do ano,
não seria sábio liquidar-se ou
liquefazer-se:
ela precisava ser sólida como nunca,
precisava ser uma rocha
(ainda que estivesse um tanto brocha).
Esse puta inferno lunar, pensava. Sol em capricórnio
não poderia ter, mas a lua lá estava, era certo e óbvio.
E em novembro, ela estava sempre cheia.
Cheia de tudo, cheia de caroços no seu angu
e mofo na sua aveia.
Ainda que dez páginas estivessem vazias.
Por causa destas zicas que não saem da cabeça.
Por causa da cabeça que teima pisar em falso.
Por causa da angústia inevitável dos últimos atos.
Por causa do ar saturado de luxúria e da frente fria
de incertezas.
Em consequências das calças já meio apertadas
e da alma ainda meio incauta.
Mas o que mata, não enlata-se. Em novembro,
ela teria que cheirar algumas neuroses antes de
jogá-las no lixo e teria que
pegar algumas viroses antes de adquirir antídotos
e suprimir contratempos.
Só que em dezembro, ela poderia,
com muito contento, empanturrar-se com o pirão
de sua mãe e, a partir daí
animar-se pra sair da contramão.
Para arriscar outras vias.
E pra cuidar das folhas que não foram aspiradas pelo vento.





passado, pelas 22:06

3 Comments:

At novembro 07, 2007 12:36 AM, Anonymous Anônimo disse...

FAN-TÁS-TI-CO
FAN
TÁS
TI
CO
NADA ESTÁTICO

ESTOU
ESTÁTICO
TÁTICO O JOGO DAS PALAVRAS SÃS!

 
At novembro 11, 2007 6:02 PM, Anonymous Anônimo disse...

Passado, mutíssimo obrigada por esse texto! É lindo e reproduz o que vivo da forma mais poética possível.
Obrigada mais uma vez.
L.G.S.

 
At dezembro 01, 2007 7:39 PM, Anonymous Anônimo disse...

piré el cabesote.

 

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