29.3.07

La Pomba: um apanhado geral.

O nome de registro, o nome que seus pais deram era Pamela.
A mãe, super protetora, usava Paminha. O Pai, quando não estava
aborrecido com ela (e, portanto, só até seus quatorze anos)
gostava de Pam.
Aos quinze anos pediu uma viagem à Amsterdã. Os pais queriam

mandá-la a Disney, para onde ela disse que só iria
como Bela Adormecida.
Em contra-proposta, arriscaram um baile de debutantes, mas ela
afirmou que não pagaria de Cinderela a não ser que o pai fumasse
um charuto com ela durante o evento. Depois disso foi só Pamela
e aos dezoito ela pegou o seu tapete mágico para
bem longe de casa.
No churrasco dos calouros de psicologia, ela resolveu experimentar

todos os tipos de cachaça de Minas que o pai do anfitrião trouxera
de uma viagem de negócios e nunca tivera tempo para tomar.
Três horas depois,
ela estava em cima da mesa do baralho, pelada,
com um zap grudado na testa,
rindo descontroladamente.
Na primeira semana de aula do terceiro semestre, ela chegou

30 minutos atrasada pela segunda vez em uma aula em que
derrubou estrondosamente a pasta sobre sua mesa quando,
em seu sono mais ou menos profundo,
pulava de uma ponte.
A professora pediu seu nome ao término da aula.
Plenamente consciente que estaria marcada até o fim do

semestre, como uma ex-presidiária, e convencida de que o pulo
não foi outra coisa que um suicídio simbólico; ela mudou de curso
naquele mês mesmo. Quando ela decidia uma coisa, era implacável:
comeu a coordenadora do curso de filosofia e conseguiu todas as
matérias que queria por lá e mais algumas na sociologia,
cujo coordenador era o marido da professora bi e fantasiava um
ménage desde que namoravam.
Quando passaria para o segundo semestre do novo curso,

ela percebeu que estava ainda mais paranóica porque esse
lance de procurar um sentido para tudo era mais agonizante que
analisar tudo.
Se na psicologia seu tormento engatinhava em Freud e ela sofrera
para ser desmamada, na filosofia seu martírio nascia em Platão e
no íntimo de sua caverna mais profunda era só dor.
Daí passou seis meses escrevendo poemas estranhos

e fabricando colares de plástico medonhos. Em um sarau,
conheceu Péricles: poeta por vocação e cobrador de lotação
nas horas vagas. Era um romance tórrido:
eles transavam em todos os assentos com muitos pontos
de exclamação, entre um e outro poema de Drummond.
Justamente quando Péricles conseguiu trabalhar em uma

grande empresa de ônibus, ela estava a um passo da falência
(pois todas as suas amigas e amigos gays já tinham uma peça
de sua coleção). Ela não teve dúvidas: agarrou-se à primeira idéia
genial e conveniente que teve.
Escreveu em um cartaz amarelo com letras verdes garrafais:
SOFRI UM ACIDENTE DE CARRO E PERDI A MEMÓRIA
A CURTO PRAZO. COMO NÃO LEMBRO DE ABSOLUTAMENTE NADA
DEPOIS DE 2 OU 3 HORAS, NÃO POSSO TRABALHAR. NÃO QUERO
ROUBAR, NÃO QUERO MATAR. AJUDE-ME A CONTINUAR VIVENDO
SEM PESO NA CONSCIÊNCIA.
Certamente mais por medo que por compaixão, os passageiros

davam-lhe se não todas, muitas das moedas que possuíam. Ela
conseguiu sobreviver mais um semestre desse jeito, quando teve
saudades de estudar, daquela coisa de ir para a faculdade,
encontrar pessoas conhecidas, dar um tempo no bambuzal entre
uma aula e outra.
Péricles foi o primeiro a reconhecer e requerer o seu talento.

Vendo, dia após dia, seu êxito em enganar as pessoas; ele passou
a pedi-la que encarnasse personagens na cama. Ela curtia aquilo e
achou que, sei lá, de repente poderia profissionalizar-se.
Foi então, no curso de artes cênicas, que ela recebeu aquele que

seria o apelido definitivo (?) de sua vida: La Pomba.


passado, pelas 02:36

2 Comments:

At abril 02, 2007 6:10 PM, Blogger Daniel Duende disse...

Humano e bem brasiliense...

Taí! Tava ansiando por ler prosa brasiliense boa! Valeu! :D

Abraços do Verde.

 
At abril 27, 2007 12:11 PM, Blogger Luciana disse...

Adoro, é quase um realismo fantástico por que é brasília...

 

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