18.3.07

A greve geral

A cabeça está em greve, reivindicando espaço:
o campo energético mínimo de cada pensamento.
Cansando-se de ser um ônibus lotado,
revoga o dever de assentar os primeiros face ao direito
de assentar os últimos e os do meio.

Uma vez que apenas os pensamentos convenientes
estejam devidamente acomodados,
(fechadas as portas àqueles que não são simpáticos)
roga, ainda, o exercício da legítima defesa:
jogar janelas à fora os pensamentos vãos.

Um corredor vazio é também coisa que anseia.
Tendo, os pensamentos à beira de explosão,
comodidade para ir ao banheiro.
Tendo, os pensamentos transviados,
caminho livre atá o vestiário,
para trocarem roupa, nome, seios,
sexo, time, país, emprego, religião.

Área vip não é uma questão de capricho,
posto que pensamentos muito bonitos
merecem os melhores lugares:
com vista para espetáculos solares e lunares.


À vista: vinte e quatro horas de música ambiente.
Sem intervalos comerciais.
Música à crédito não é proposta que se apresente.
Não deveria nem constar nos anais.

Água gelada e café quente: refrescando os dias
de calor e aquecendo os dias de frio.
Seguem os estudos em anexo e o veredicto:
pensa-se um dia por vez (vez de noite, vez de dia).

Aos pensamentos que portam-se tão especiais
quanto necessários: o acesso próprio.
Uma via adequada para entradas triunfais.
Nossos mancos têm samba no repertório.

Finalmente: cabeças não enrolarão.
Exigem a manutenção do fiel motorista
de tantos anos.
Entre excessos e enganos,
ele ainda manda muito na pista.
Em tempo: agradecem à atenção
das autoridades
contrárias aos disparates.

Café desbotado, mas amargo.

passado, pelas 17:55

2 Comments:

At março 22, 2007 5:32 PM, Blogger Daniel Duende disse...

Já havia lido esta poesia no dia em que a publicou, e voltei a passar os olhos por ela no dia em que a publicaste no Overmundo... mas hoje, relendo-a não sei porquê, ela finalmente fez todo o sentido para mim! Sim... ela quase fala por mim! Eu, que tenho também a cabeça cheia de pensamentos, ou tinha até agora, também estava precisando de um grito de "chega!". Curioso que sua poesia, neste momento, me fez lembrar-me de fazer isso.

Fiz até um post/desabafo/reorganização de passageiros lá no Caderno do Cluracão. Se quiser dar uma olhara, clica aqui.

Vou dar uma olhada sobre como foi a recepção de sua poesia lá pelo overmundo agora...


Bjos do Verde.

 
At março 25, 2007 3:01 PM, Blogger Marcus disse...

acho que esse eu já conhecia, de alguma forma. de toda forma, lindo.

 

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