27.6.06

vapores


gosto das suas camisas de botão

e pinto as unhas de rubro

pra ficar bonita a combinação

como se o sangue do seu peito

passasse pras minhas mãos

pra eu te manchar todo

de boca-baton imaginário


deitada, não vejo as suas pernas

por perto

mas sei que estão ao lado

das minhas coxas cobertas

no limite da cama

é ainda seu corpo longo

que me arrasta aventura adentro

para o centro da tarde

onde estamos nus:

eu e a sua imagem


é o gosto de acordar

ouvindo sussurros daquela poesia

ainda tépido você fala

que um dia fará tudo igual

com exceção de cortar os pulsos

que isso não é jeito de se matar

mas que garante os pássaros

rios pêssegos seios e cigarros

além da prova cabal

dos líquidos vertidos sorvidos

no lençol de linho antigo

que roubamos de outro varal


na hora de ler o jornal

sei que você vai rir

e dizer que naquela manhã

estarei propensa a calor humano

um pouco irritada em caso de engano

e especialmente doce ao sul

para provar outra vez

a incerteza de sua astrologia

volto do banho vestida

e preparo um café amargo

te chamo pra dançar comigo

quero pisar nos seus pés

fazer passos de tango

com colher no lugar de rosa

te beijar sabendo a menta

mentir que sempre fui santa

enquanto você descose a saia

e trança a porta da sala

pra vazar por janela aberta

o que há de suspenso e tenso

nos vapores da nossa erupção.

passado, pelas 15:45

6 Comments:

At junho 28, 2006 4:36 PM, Anonymous Anônimo disse...

Evaporou.

 
At junho 28, 2006 5:44 PM, Blogger Ilizi disse...

Sempre achei cortar os pulsos um excelente jeito de se matar.

Acho q vc vai sentindo a vida ir embora... deve doer, mas nem tanto.

Ok, faz suheira, mas não seria eu a limpar a sujeira depois, seria?

Ou então tomando um montão de remédio pra dormir, pq n dói.

Agora, pular de prédio e ficar toda espatifada? Neeeem. Fora q deve doer um montão, nem q seja por meio segundo.

No mais, gostei.:)

Quem fez?

 
At junho 29, 2006 1:19 AM, Anonymous Anônimo disse...

Não, definitivamente não foi um suicídio.
Nova Anais Nin em versos.
É forte e é lindo.

 
At julho 02, 2006 1:09 PM, Anonymous Anônimo disse...

ficou lindjo o trem. Ó, arrepiei na manhã de domingo.

 
At julho 02, 2006 11:51 PM, Blogger Raffab disse...

perdi o reprise e tudo.

 
At setembro 25, 2006 12:53 PM, Anonymous Anônimo disse...

eu não fiz esse texto.
é uma daquelas coisas que a gente nunca vai entender porque morreu, amargou, sem fazer.
mas fico feliz por ainda estar viva
e ainda mais
quando senti a mão íntima, segura, desta cumplicidade humana
no ombro dos meus segredos

 

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