18.6.06

A Universitariazinha

Esperavam o mesmo ônibus. Ele descobriu porque perguntou se já havia passado e ela disse que "tô aqui há um tempão e nada. Oito minutos!"

"A ansiedade é uma coisa terrível", ele provocou.
"Seria, se eu não tivesse o que fazer em casa. Tenho uma prova amanhã cedo e não estudei nada."

Ele não tinha o que fazer. Aliás, não sabia o que fazer. Por acidente, caminhara no parque. Sentira um prazer familiar, como se fosse habitual algo que ele experimentava pela primeira vez. Agora ia pra casa e...

"Você é muito divertida."
"Na faculdade é o que todos me dizem."
"Estuda o quê?"
" ... o ônibus!"

Quantos negócios não fechados, filosofias inconclusas, piadas sem riso, e tudo isso pela prosaica partida de alguém cujo ônibus esperado chega sem aviso. Aqueles dois não esperassem o mesmo ônibus e uma crônica de viagem deixaria de ser escrita. Sentaram-se juntos, ele primeiro.

"Relações públicas. Faço Relações Públicas."

E convidou-o pro coquetel de lançamento de seu produto: um advogado de renome que ele supunha péssimo. Iria ao coquetel. Ela falava levemente, como duma partida de vôlei na escola.

"Do que mais você gosta?", ele quis saber.
"De dormir. E de arte", arriscou. "Salvador Dalí"

Pintor espanhol do surrealismo. Era a nota de rodapé que ele tinha do artista. Por que artes plásticas? Fortunas por uma tela e tantos poemas sem publicar. Só pensou.

"Fiz quatro anos de piano", ela respondeu ao silêncio.
"E livros?"
"Desde que entrei na faculdade, só os técnicos."
"Vai gostar do García Márquez, mas não começa por Cem Anos de Solidão. A gente sempre desiste da primeira vez."
"Já desisti", ela confessou.

A bela adormecida do avião. Era ela! Precisava que ela lesse o conto.

"Começa por Doze Contos Peregrinos", ele introduziu o assunto.
"Lá tem um conto..."
"Oi!"

Ela encontrara um amigo. Ex-colega de faculdade, conforme ele apurou ouvindo a conversa. Pensou em não descer do ônibus.Já em casa, só, releu o conto do Garcia Márquez e lamentou que a beleza e a viagem (da universitariazinha e do ônibus) não fossem tão grandes como as da bela e do avião.

passado, pelas 09:56

4 Comments:

At junho 18, 2006 4:05 PM, Anonymous Anônimo disse...

Cem anos de solidão? nãão. e não gosto do 5102.

 
At junho 20, 2006 8:55 AM, Anonymous Anônimo disse...

zinha

 
At junho 20, 2006 4:53 PM, Blogger Ilizi disse...

Será que ele realmente iria no coquetel depois?

 
At junho 21, 2006 8:35 PM, Anonymous Anônimo disse...

milhões nos quadros, depois que o artista morre.
mas pior que artista, é produtor, rs.

 

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