29.5.10

O diamante versus a porcelana


Sinto muito ser eu a lhe dizer:

O que talha o ser diamante

Não está no seu duro entender

Fuligem é o estado da mente

Jamais carvão.


Fluidez eu tenho a lhe oferecer:

O eco que faz ilha o instante

São asas quando existe o querer

Barragem se o verbo é implante

Não mais ação.


Palavra é só o que respinga

A água que inunda a boca

contém a saliva

A boca que modela o beijo

também é língua

A roda que move o desejo

não é cíclica.


Nem só porcelana é que racha

É faxina que não cessa em vida

Juntar meteoritos de confiança.


Nem só a vista é que flagra

É posologia que não termina

Juntar indícios de ignorância.

passado, pelas 11:12 0 comentários

5.5.10

retrós (ou oroborossamba nº 2)


comecei bordar com mesclado
porque queria graduada
a cor da minha pele.

um autorretrato malfeito
porque nunca costuro direito.

preparei bastidor e entretela,
esmero, requinte, cautela:

quando cheguei no olho,
não consegui dar brilho nem foco
e fiz um louco moribundo.

aí parei:

um desafio vencido
sem nunca ter sido.

não me penitencio - pelo olhar tão vago -
noites a fio,
apenas embargo a obra.

faço e desfaço esse ponto
cruzado mil vezes e tantas.

(meu retrós e sorte ruem).

como não vejo saída,
cesso.
retrós recebe de volta linha
e a agulha faz seu inverso.

e o processo, de novo ideia-galinha,
não emaranha:
me anovela um ovo de meada.

passado, pelas 23:17 0 comentários

Links

Arquivo

Powered by Blogger