23.4.09

eu me renovo a cada
passo
outro
eu me renovo

eu me renovo a cada
trago
de cigarro
a cada nova mancha eu
me renovo

eu me renovo
a cara pálida de sono
eu sonho que
a cada sonho
me renovo

eu
me
renovo
a cada traça
a todo troço que me
caiba
eu me desmonto
eu me conjunto
eu me renovo

eu me renovo a cada pétala de sol a cada raio a cada músculo suor fio de cabelo
eu me renovo

eu pulo etapas eu condeno o tempo cada todo um tem seu caminho seu pecado
eu embaralho
corto
distribuo

eu me renovo

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14.4.09

artes plásticas

um tufo de garrafas pet no fundo na sala

uma luz trivial trivialíssima no canto esquerdo
cercada por celofane vermelho
como naquele filme

de quem?
- algum do oriente

na entrada, a saia
de sacolas de supermercado
(brancas
esvoaçantes)
ficaria bem em qualquer uma

- mas estava pendurada por fios de nylon

eu quis rasgar meu coração
quando vi sua instalação:

chorei lágrimas de polietileno.

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13.4.09

poema para dona anália

era luz de candeeiro
era sim
alumiava mei-mundo
tantas léguas quantas fossem
daqui até a volta do bonfim

era na casa e na rua
e era mais em procissão
que nossa senhora da guia,
invocada em contrição,
carregou aquelas almas
pro caminho da salvação

eram as contas do rosário
moça senhora donzela: todas elas
dia e noite a mesma reza
- valei-me, minha mãe, valei-me!
que ofício de sentinela
foi sempre joelho e andor

era morto o seu menino
era morta a sá maria
nem de bala nem de susto
carece talvez assuntar
o motivo de tanto luto
que naquele fim de tudo
deu logo de ir se mudar

diz que nessas bandas
com três palavras até menos
um homem empenha o tempo
mas nem todo o dicionário
pai de quem seja ou padrasto
é capaz de encontrar
letra junta que dê jeito
do fim da vida explicar

a maria e seu menino
e mais toda sorte de gente
nenhum anjo carregou
levou as dores do parto
de antes, as dores do amargo
de toda hora de dor

de sempre sobrar espaço
no canto que é do sustento
do que se chama alimento
ou farinha ou café ou flor
e sobrar vela e ladainha
caixão cruz e pedra escrita:
ali a outro faltou
o de comer na mesa
o de lavrar no chão
que é na terra que se apega
quem nesse mundo nasceu
de nome grande sertão.

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5.4.09

o que era rei se foi

vai me pedir para colocar pesos nos livros, podem cair do lado. vai me pedir para colocar mais água no feijão, nas plantas, na nuca, porque pode cair por causa do calor e precaução demais nunca é suficiente. vai me colocar outros nomes, porque o meu não é sonoro, não é bíblico, não é digno de ser dito. vai exigir poemas, homenagens, festas toda semana com gente que eu não conheço. vai me colocar de bruços, vai me colocar para o lado. vai gritar meu nome no meio da rua e imaginar que um anel daqueles ecos vai entrar pela janela e me pedir em casamento.

passado, pelas 15:43 4 comentários

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