22.9.07

me compra um mundo

me compra um mundo
onde todo mundo
goste de jambo
onde eu não precise
saber qual chave
abre a minha porta
porque não se tranca
esse outro mundo

[eu procuro
anúncios
da nova era
encontro apenas
aluguel de céu
pra depois daqui]

me vende um tempo
fiado
é que o pagamento
só sai no aniversário
até lá preciso de tanto
roupa sapato tomate martelo
e aquele antialérgico genérico
pro caso de um piripaque

parcela em cinco vezes
a vontade do que não se é
pra ver se, farsante
consigo me dividir
a perder de vista

e assim
aos pedaços
com juros de cem por cento ao mês
não haverá fome
saudade sono estupidez
capaz de me roubar
a paz atômica
de existir
só.

passado, pelas 12:15 5 comentários

19.9.07

spondias purpurea

comecei a prece pedindo pra ter de novo
sete anos -
aí parei.
o que eu queria, meu senhor,
era um pé de serigüela,
fosse o da vizinha!, como era,
pra ter com quem conversar.

exemplo: um origami sempre é um desafio.

nada do que eu aprendi sobre a vida
até os sete anos
foi revisado como devia, estudado, decodificado.
eu nunca fui mesmo um bom aluno, dedicado,
desses de perder fuga.

e um conselho: se não praticar,
um origami fica cada vez mais difícil.

envelhecer bonito, se não meta,
era coisa boa de se conseguir.
bonito e envelhecer, dizem lá pras bandas
do outro lado do rio, são perspectivas, não verdades.

toda a flora que pipoca na minha cabeça,
com plantas-idéas que vão crescendo, crescendo, crescendo,
não pode ser podada.
eu não consigo cortar.
o físico que analisou as condições de resistência
do meu crânio - às plantas, às idéias -
receitou topiaria e repouso.
estou seguindo o tratamento.

um dia, enquanto dobrava,
ouvi uma música, assim:

joana, não brinca na chuva!,
joana, não vai se molhar,
não fica correndo na chuva, joana!,
senão vai adoentar.

e achei tão triste a vida de joana
que chorei.

o fato é que eu não consigo me lembrar
- sempre -
do pássaro que bate as asas. começo com um quadrado
e a seqüência se insinua, mas não se completa
na minha cabeça.

passado, pelas 17:36 3 comentários

Valha-me

Valha-me Deus
Valha-me Zeus
Valham-me os meus
os teus
os nossos

Valham-me os ossos
Valham-me os destroços
Valham-me os negócios
os sócios
o ópio

Falha-me o ódio
Falha-me o ócio

Valha-me a falha
Valha-me a fornalha
Valha-me o pão

Ralha-me o não
Ralha-me o cristão
Ralha-me de antemão

Calham-me os sapatos
Calham-me os percalços
Calham-me os sobressaltos

Calam-me os aspargos
as aspirimas
e os urubus

Em cima
do meu corpo nu.

passado, pelas 16:11 1 comentários

13.9.07

Quem ri por último ri melhor?

Não responda à esfinge.
Ainda é melhor pagar pra ver.
Sossega ou finge
não esmorecer.

Apega-te a tuas descrenças:
se não há céu ou inferno,
só há o aqui e o ali.
Vá ali,
pede licença.
Não se acomode ao inverno.

Pegue teus óculos de sol
ultramodernos
e um anzol.
Aguarde a renascença.


E pesque.

passado, pelas 15:12 2 comentários

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